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pau d´arco - UFMA - 2014

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

o que é ser útil?

Hoje, acordei pensando: "Último dia útil da semana".
Parei e refleti: Útil, por que?, Útil, pra quem?
Engraçado, convencionamos determinados termos e situações e vamos reproduzindo-as, sem pensar. Reforçando idéias com as quais nem concordamos.
Aí! Lembrei de um artigo de Rubem Alves, que diz:
" Faz tempo preguei uma peça num grupo de cidadãos da terceira idade. Velhos aposentados. Inúteis. Comecei a minha fala solenemente. “Então os senhores e as senhoras finalmente chegaram à idade em que são totalmente inúteis...” Foi um pandemônio. Ficaram bravos. Me interromperam. E trataram de apresentar as provas de que ainda eram úteis. Da sua utilidade dependia o sentido de suas vidas. Minha provocação dera o resultado que eu esperava. Comecei, então, mansamente, a argumentar. “Então vocês encontram sentido para suas vidas na sua utilidade. Vocês são ferramentas. Não serão jogados no lixo. Vassouras, mesmo velhas, são úteis. Já uma música do Tom Jobim é inútil. Não há o que se fazer com ela. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que se parecem mais com as vassouras que com a música do Tom... Papel higiênico é muito útil. Não é preciso explicar. Mas um poema da Cecília Meireles é inútil. Não é ferramenta. Não há o que fazer com ele. Os senhores e as senhoras estão me dizendo que preferem a companhia do papel higiênico à companhia do poema da Cecília...” E assim fui, acrescentando exemplos. De repente os seus rostos se modificaram e compreenderam... A vida não se justifica pela utilidade. Ela se justifica pelo prazer e pela alegria – moradores da ordem da fruição. Por isso que Oswald de Andrade, no “Manifesto Antropofágico”, repetiu várias vezes “a alegria é a prova dos nove, a alegria é a prova dos nove...”

Nesse aspecto os dias mais úteis pra mim são os sábados e domingos dos quais dedico uma boa parte do tempo às coisas que me dão prazer sem estarem medidas pelo valor do conceito comum de utilidade: meus filhos, minha casa, minha cidade, meus livros, meus CDs, meus filmes. Enfim, nada que garanta a sobrevivência da matéria, do corpo, mas que garante a alegria do espírito e me dá energia pra agüentar o tranco do dia a dia.
É isso: Dia útil, é o dia que dedicamos à viver!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Última sobrevivente da cela 4

Luiz Antonio Ryff

Morreu, aos 102 anos, Beatriz Bandeira, a última sobrevivente da famosa cela 4 – onde foram presas, na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, as poucas mulheres que participaram da revolta comunista de 1935 no Brasil.
Foi na cela 4 que ficaram confinadas Olga Benário (esposa do líder da intentona, Luiz Carlos Prestes), a futura psicanalista Nise da Silveira, a advogada Maria Werneck de Castro e as jornalistas Eneida de Moraes e Eugênia Álvaro Moreyra.

Por conta dessa passagem, Beatriz virou personagem de livros como “Memórias do Cárcere”, o relato biográfico de Graciliano Ramos, que também esteve preso por causa da revolta.

Pouco antes, como militante comunista e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), Beatriz conheceu seu marido, Raul, que viria a ser jornalista e secretário de Imprensa do governo João Goulart (1961-1964). Com ele se casou três vezes.

Os dois foram exilados duas vezes. Em 1936, depois da libertação, foram expulsos para o Uruguai. Em 1964, após o golpe militar, receberam abrigo na Iugoslávia e, posteriormente, na França.

Ao regressar ao Brasil, Beatriz continuou a militância política nos anos 70 e 80. Foi uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, que lutou pelo fim da ditadura no País.

Beatriz nasceu em uma família positivista. Seu pai, o coronel do exército Alípio Bandeira, foi abolicionista. Como militar, trabalhou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e ajudou o Marechal Cândido Rondon na instalação de linhas telegráficas no interior do País e no contato com tribos isoladas – Alípio liderou o encontro com os Waimiri Atroari em 1911, por exemplo.

Além de militante política, Beatriz foi poeta (publicou “Roteiro” e “Profissão de Fé”) e professora (foi demitida pelo regime militar da cadeira de Técnica Vocal do Conservatório Nacional de Teatro). Também escreveu crônicas e colaborou para o jornal A Manhã e as revistas Leitura e Momento Feminino. Há dez anos ela contou um pouco de sua história em uma entrevista à TV Câmara.

Beatriz morreu na noite de segunda (dia 2) após um AVC. Foi enterrada no final da tarde de hoje (dia 3) no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Uma nota pessoal

Beatriz Bandeira Ryff era minha avó. Nos últimos anos de sua vida centenária a senilidade tinha lhe tirado totalmente a visão. Ela quase não falava e mal se comunicava com o mundo.

Há uns dez dias, fui visitá-la levado pelo meu filho de 8 anos que queria dar um beijo na “bisa”. Encontramos ela mais presente do que em todas as visitas nos anos anteriores. Chegou a cantarolar algumas músicas que costumava embalar o sono dos netos quando pequenos, como os hinos revolucionários “Internacional”, “A Marselhesa” (embora ela também cantasse obras não políticas, entre elas a “Berceuse”, de Brahms).

Ao me despedir, perguntei-lhe se lembrava o trecho do poema “Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias, que ela costumava recitar. Ela assentiu levemente com a cabeça e começou, puxando do fundo da memória. Foram suas últimas palavras para mim.

“Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.”
(“Canção do Tamoio”, Gonçalves Dias)

Autor: Luiz Antonio Ryff
transcrita e disponivel em http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mais um ano se inicia. Com ele esperanças renascem e sonhos são buscados.

Não é diferente pra quem luta por direitos humanos, talvez seja até mais intenso, afinal nossas conquistas nascem do desejo de construir um mundo melhor. E não é um melhor qualquer. É um melhor com igualdade, com garantia de direitos, com respeito à diversidade. Isso contraria tanta gente!

Pra nós não basta ter o sexto PIB mundial, queremos que cada brasileiro (a) usufrua da riqueza produzida no país. Tenha acesso aos serviços públicos sem precisar da mãozinha de um amigo. Que ande na rua e entre nos estabelecimentos sem serem discriminados porque são gays, lésbicas, travestis, cadeirantes, idosos (as), jovens, negros, índios, mulheres, crianças ou porque estão vestidos inadequadamente.

Somos exigentes! Eles dizem que queremos muito. Pra nós parece pouco: Queremos só “ser humanos”.

Em nome dessa aspiração brigamos, reclamamos, somos chatos, indignados, rebeldes. Fomos fisgados pelo vírus da consciência de que somos sujeitos, somos protagonistas e vamos construir nossa história do jeito que queremos.
Incomodamos?

– Muito!!!!! E o que é pior incomodamos até amigos (as), de caminhada inclusive.

Em 2012, é só isso que podemos prometer: Vamos continuar a escrever na nossa pagina desse livro, que continuamos jogando nesse time, que vamos continuar cumprindo nossa parte no jogo. Jogando em função da causa da libertação, pra ajudar nosso time ganhar, não apenas uma partida, mas o campeonato inteiro.

Isso eu me comprometo!